Nos últimos meses, em
diversos pontos do Concelho de Vila do Bispo, tem decorrido uma série de
intervenções no âmbito da execução do “Sistema interceptor e elevatório de Vila
do Bispo e Sagres”. Trata-se de um projeto que, tendo como entidade promotora a
empresa ÁGUAS DO ALGARVE, S.A., foi concebido como solução de transporte dos
efluentes gerados nas povoações de Sagres, Hortas do Tabual, Raposeira e Vila do
Bispo, através da construção de um conjunto de sistemas elevatórios e
intercetores que canalizem esses efluentes para a nova Estação de Tratamento de
Águas Residuais (ETAR) de Vila do Bispo, inaugurada no dia 24 de março de 2016 junto
à ponte da Granja.
Toda as fases desta
extensa obra têm sido monitorizadas, em sede de Acompanhamento Arqueológico, pelos
arqueólogos José António Pereira e Rosa Mateos, da empresa NOVARQUEOLOGIA –
Arqueologia, Informática e Serviços, Lda.
Ainda antes do início das
obras, foram realizadas prospeções arqueológicas ao longo do traçado da conduta
e no perímetro das infraestruturas a construir. As prospeções tiveram por
objetivo o reconhecimento de ocorrências patrimoniais de interesse
arqueológico, etnográfico e arquitectónico, localizadas na área de afetação
direta do projeto, e a definição de medidas de minimização de eventuais impactos
no património cultural.
Com base na pesquisa
bibliográfica e nas prospeções arqueológicas realizadas no terreno, verificou-se
que o traçado da conduta atravessaria uma zona de elevada sensibilidade
arqueológica, compreendida entre o Alto das Barradas e a Ribeira da Serra da
Borges, na Raposeira. À superfície do terreno foi identificada uma
significativa mancha de materiais, sobretudo de cronologia romana, incluído um
menir anteriormente referenciado que terá sido amputado para presumível
reutilização enquanto peso de lagar.
Atendendo à área de
dispersão dos materiais, e de forma a minimizar os impactes da obra em
eventuais contextos arqueológicos ocultos no subsolo, os arqueólogos
responsáveis pelos trabalhos de acompanhamento sugeriram adequadas medidas preventivas,
designadamente um conjunto de sondagens mecânicas, controladas
arqueologicamente, ao longo de um troço de 400 metros, numa área total de 50m2.
Numa dessas sondagens foi
identificada uma estrutura aparentemente destinada à captação e armazenamento
de água. Depois de escavada manualmente, a estrutura apresentou uma planta definida
exteriormente por um anel circular em argamassa e um poço central rectangular
em alvenaria argamassada. Foi escavado até aos 4 metros de profundidade, atingindo-se o nível freático.
Quanto à cronologia da
estrutura, ainda não foram recolhidos elementos suficientes para uma datação
precisa. Considerando, por associação direta, os materiais arqueológicos
registados na área envolvente, a construção poderá enquadrar-se em época
romana, tardo-romana, medieval ou mesmo sub-atual. A avaliação possível ao
momento concorre para uma estrutura relativamente recente, de Idade Moderna ou
Contemporânea.
A estrutura foi
devidamente registada e será poupada com um ligeiro desvio do traçado da
conduta, sendo novamente enterrada e protegida com uma manta geotêxtil para
memória futura.
A correta articulação
entre todas as partes envolvidas num processo desta monta, nomeadamente entre os
proprietários dos terrenos intervencionados, o dono de obra (ÁGUAS DO ALGARVE, S.A.),
os arqueólogos de acompanhamento, o arqueólogo municipal e a tutela do
património cultural (Direção Regional de Cultura), permitiu precaver atrasos
decorrentes de intervenções arqueológicas, a produção de informação científica
relativa à história da presença humana no território e a minimização de impactos
no património cultural.
Registo fotográfico e
modelo 3D da estrutura escavada na Raposeira: