Feliz quem tem uma PEDRA em SAGRES

Palavras-chave | Keywords

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A "Fortuna Alada" da Boca do Rio | Budens


























Denominação: Estatueta de Fortuna Alada

Proveniência: Boca do Rio / Budens / Vila do Bispo

Localização actual: Museu Nacional de Arqueologia (Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa)

Datação: séculos I d.C. - II d.C. (Época Romana)

Matéria: Bronze

Técnica: Fundição

Dimensões: altura - 8,7 cm; largura - 3,4 cm; espessura - 2,0 cm

Descrição:
Deusa Fortuna representada através de um figura jovem, feminina, nua e alada. A parte superior do corpo, desde o terço superior das pernas, emerge de um cálice ou, mais provavelmente, de um ramo de folhas de acanto. Cabeça direita, olhando de frente, coroada por um pequeno diadema. O penteado oculta as orelhas e é apanhado na nuca, para cair em jeito de trança pelo dorso abaixo. O rosto encontra-se um pouco gasto, dissimulando a nitidez dos detalhes faciais. O torso evidencia algumas particularidades anatómicas, das quais se destacam os seios, o umbigo, e acusada prega inguinal. O braço direito pende ao longo do corpo e a respectiva mão envolve o colo de um jarro ou oinochoe; o braço esquerdo flectido, pelo cotovelo, eleva o antebraço de modo que a mão possa amparar o açafate, ou calathus, com seis pequenos esferóides simbolizando frutos, apoiado no ombro do mesmo lado. Na parte superior do dorso permanece inteira e entreaberta a asa esquerda e vestígios da outra. A parte inferior do cálice é escavada, formando uma calote cónica, adaptável a qualquer peça, pressupondo ter sido utilizada como aplicação. A pequena estatueta poderia representar uma imagem de abundância que seria venerada num lararium.

Origem / Historial:
Proveniente do sítio arqueológico da Boca do Rio (Budens / Vila do Bispo), esta estatueta foi pela primeira vez referenciada por Sebastião Philippes Martins Estacio da Veiga, a partir dos seus trabalhos para a Carta Acheologica do Algarve (1877-1878). Neste caso concreto, a publicação em causa é póstuma ao desaparecimento, em 1891, deste ilustre pioneiro da arqueologia portuguesa, particularmente algarvia. Após ter publicado os 4 volumes das suas Antiguidades Monumentaes do Algarve - tempos prehistoricos (VEIGA, 1886; 1887; 1889; 1891), o tripartido Volume V das Antiguidades Monumentaes (VEIGA, 1904; 1905; 1910), desta feita acerca dos tempos historicos, será publicado, por iniciativa de José Leite de Vasconcelos, nas páginas de O Archeologo Português (VEIGA, 1910). Ainda incompleto, este Volume V terá sido enviado pelo próprio Estacio da Veiga para a Direcção Geral da Instrução Pública, sendo posteriormente resgatado pelo director do então designado Museu Etnográfico Português e editor da referida revista.
Importa referir que Estacio da Veiga escavou na Boca do Rio em 1878, legando-nos um exemplar levantamento em planta (que inclui a representação desta nossa estatueta) e minuciosos desenhos de alguns dos mosaicos exumados.

Segue-se a transcrição da notícia de descobrimento desta estatueta e a sua exemplar descrição, segundo a perspectiva do próprio Estacio da Veiga:

«R Figura symbolica de bronze, parecendo estar de pé dentro de uma cesta (sic) ornada no bordo. Mostra-se nua desde o terço superior das pernas até a cabeça, em que os cabellos, graciosamente repartidos ao meio e seguros por um diadema, lhe guarnecem a fronte em marrafas onduladas e vão reunir-se estendidos pelas costas.
Sobre o hombro esquerdo segura com a mão um vaso colmado de frutos, e com a mão direita, estendido o braço junto ao corpo, um vaso de fundo estreito, cuja boca tapa e esconde com o dedo pollegar. Do lado esquerdo do hombro pende-lhe uma asa entreaberta e no direito nota-se o sinal de faltar a outra. Na parte inferior da cesta ha um espaço ôco, que parece ter servido para sobre um pedestal ser encimada a pequena estatua (pouco maior que o desenho), que poderia representar um signum, ou a imagem da abundancia, para ser venerada ou implorada como protectora da riqueza. Achou-se esta bem modelada figura de bronze nas ruinas dos edificios romanos da Boca do Rio, ou praia de Budens, e me foi mui graciosamente offerecida pelo antigo e benemerito redactor da Gazeta do Algarve, Dr. Augusto Feio Soares de Azevedo. Tenho-a no museu do Algarve.»



VEIGA, E. da (1910) – Antiguidades Monumentaes do Algarve. Cap. V. Tempos Históricos. O Archeologo Português, Vol. XV, Lisboa: Museu Ethnographico Português, p. 214-215.

Regime de Protecção:
Classificação de Interesse Nacional por necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas.

Ficha de Inventário MatrizNet

Menires de Vale de Gato de Cima | Vila do Bispo


Um grande menir fragmentado, a 20 m de outro menir, desta feita "natural" (um propício "afloramento menírico"), situados numa elevação com 112 m de altura, 250 m SE do Monte de Vale de Gato de Cima, a cerca de 3 km SO de Vila do Bispo.

Relocalização: Ricardo Soares e João Velhinho | 11.08.2014 

Menir do monte de Santo António de Baixo | Sagres

A 4 km NE do Cabo de São Vicente e a cerca de 300 m SE da Ermida de Santo António, no sítio dos Covões, à direita e junto do caminho para o monte de Santo António de Baixo (Herdade de Santo António), um pequeno menir fragmentado em duas partes, de forma subcilíndrica, talhado em calcário regional de cor branca e apresentando as recorrentes depressões decorativas denominadas de "covinhas" (ou fossetes).

Antiga mãe-d'água e cano de Vila do Bispo

600 metros à direita, a partir da rotunda de saída de Vila do Bispo, à beira da antiga estrada Vila do Bispo-Sagres, à vista!


Vale de Boi Revisitado pela National Geographic | Budens


Vale de Boi é o maior sítio arqueológico do Paleolítico Superior em Portugal. Regista ocupações regulares entre 25 mil e 6 mil anos antes do presente. Neste intervalo, um abrigo rochoso em Vale de Boi, a poucos quilómetros de Vila do Bispo, foi escolhido por caçadores-recolectores provavelmente porque, a uma centena de metros, teria existido uma lagoa de ligação ao mar, que alteraria o teor salino da água e que funcionaria como pólo de atracção para os animais...



Os zoomórficos do Monte da Pedralva | Budens


Em 1891, Estacio da Veiga refere no volume IV das suas Antiguidades Monumentaes do Algarve, no sítio do Monte da Pedralva, a fortuita descoberta de três objectos metálicos: “uma fita de ouro grosseiramente batido” e “duas figuras de bronze, de quadrupedes, um touro, um javali (?) com os caninos inferiores de prata”.
Em 1987, Carlos Tavares da Silva e Mário Varela Gomes, na sequência dos seus trabalhos para o Levantamento Arqueológico do Algarve – Concelho de Vila do Bispo (GOMES, M.; SILVA, C.T. (1987) – Levantamento Arqueológico do Algarve. Concelho de Vila do Bispo. Vila do Bispo: Secretaria de Estado da Cultura), voltam a referir estes artefactos, precisando o Barranco das Colmeias, na Herdade do Arieiro, como local da sua ocorrência, integrando-os em cronologias da Idade do Ferro – século IV a.C.
Actualmente, as duas estatuetas zoomórficas encontram-se à guarda do Museu Nacional de Arqueologia.
Segue-se a referência original destes achados, por Estacio da Veiga.

VEIGA, E. da (1891) – Antiguidades Monumentaes do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. IV. Lisboa: Imprensa Nacional, p. 171-176.

Monte da Pedralva (Vol. IV p. 171-176)

«Este monte está situado a noroeste e distante uns 5 kilometros de Villa do Bispo, a pouco mais de 4 kilometros da igreja da Raposeira, na mesma orientação, e a sueste pouco mais de 4 kilometros da mina de manganez do Morração, que fica á mesma distancia ao sul da aldeia da Carrapateira. Pertence o dito monte á herdade do Arieiro, onde duas crianças, andando por uma estreita vereda, viram luzir á superfície do chão um objecto, que fôram tirar com o auxilio de uns pedacinhos de madeira. Era uma fita de ouro grosseiramente batido, da largura de 0m,020, feita em pedaços, que media quasi 1 metro de comprimento, a qual parecia cingir duas figuras de bronze, de quadrupedes, um touro, e um javali (?) com os caninos inferiores de prata. A fita sabe-se que foi vendida a um ourives, e as figuras de bronze obteve-as o sr. Judice dos Santos, o qual indagou que no logar do achado ha um filão de mineral e indicios de mina antiga, parecendo queimada ou com residuos de fundição a terra em que estavam os ditos objectos.
Ora, a mina que se conhece hoje mais proxima do Monte da Pedralva, como já disse, é a de manganez do Morração, cujo reconhecimeto foi feito em 1886 pelo sr. Neves Cabral, no serro do Canafrechal, com seguimento para oeste e terminando em escarpa abrupta na propinquidade do oceano entre a praia da Fuzelha e a do Amado; mas na sua estatistica mineira, publicada em 1886, não a cita; nota, porém, que o manganez forma jazigos em massa ou bolsadas de configuração lenticular intercaladas na estratificação dos schistos e quartzites.
«Estes jazigos, diz o distincto engenheiro de minas, acompanham muito de perto, tanto em Portugal corno na provincia hispanhola de Huelva, os jazigos pyrito-cupriferos que occupam a mesma zona.»

Portanto, é mui provavel que alli perto se tivessem achado em antigos tempos alguns minerios de cobre e que os vestigios de fundição não fôssem de manganez, mas de cobre, ou de bronze.

Todas estas circumstancias são porém insufficientes para que se possa determinar a epocha a que pertencem as figuras de bronze e essa fita de ouro, que não cheguei a observar, mas que, a ser exacta a informação dada ao sr. Judice dos Santos pelo camponez que a vendeu a um ourives, representa um trabalho primitivo, se com effeito foi estendida a choques de percutor e ainda os deixava perceber. Póde pois ter sido um adorno similhante áquelle que figuro na est. IV sob n.º 2, achado com instrumentos de cobre no monumento n.º 4, de Alcalá, cujo trabalho tosco estivesse ainda em uso quando foram fundidas as duas figuras de bronze que represento nas estampas XX e XXI; poderá porém a configuração, a fusão e o preparo das figuras deixar ao menos presumir a epocha da sua fabricação? Faltam exemplos do mesmo genero nos museus nacionaes, achados em condições archeologicas conhecidas e classificadas com seguro fundamento; porque geralmente nos museus e na grande maioria das collecções particulares só se pretende que entre toda a casta de cousa que se tenha achado em qualquer parte, e nada se registra em devida regra, havendo por isso objectos que seriam de apreciavel importância, se fôssem conhecidas as localidades e condições dos seus jazigos.

É, portanto, preciso recorrer a meios estranhos para se ficar percebendo alguma cousa.

A est. XX, permite julgar que o auctor do original que ella representa, teve os melhores desejos de figurar um touro, pois até certo ponto conseguiu traçar no molde um delineamento tal, que deixa adivinhar ter sido esta a sua intenção. O touro saíu porém um tanto mocho. O molde que deveria ter empregado para ornar a fronte pouco taurina do animal, foi o que elle inseriu no logar da cauda. A respeito de orelhas, mal se percebe o logar que deviam occupar, e o focinho ficou mais agudo que trombudo. As pernas dianteiras são muito mais robustas que as trazeiras; a direita mede na espessura superior, metade da altura do abdomen á linha, dorsal; foi porém muito cuidadoso em rachar as unhas ao bicho, mas não atinou com a fórma das patas: entretanto, mostra ter-se querido esmerar na perna direita posterior, accentuando com farto engrossamento lateral a articulação dos dois ossos, deixando porém a tibia talvez quatro vezes mais curta que o femur: emfim; em vez de boi saíu-lhe um monstro em attitude de marchar para a direita.

Comparado com a figura do boi, representada nas mais antigas moedas de legendas peninsulares, é mister inscrever este conjunto de imperfeições n’outra epocha muito anterior á da cunhagem d’aquellas moedas, quer seja na primeira idade do ferro, ou talvez ainda nos ultimos tempos da idade do bronze, tanto mais se confrontarmos a rudeza da cabeça d’esse aleijão bovino com a em que remata um picarete de alvado central, de tromba bicornuta, achado em Jelabugy, que Worsaae nos mostra estampado com o n.º 7, pag. 44, como um dos representantes da idade do bronze na Russia.

É porém ainda muito mais brutesca a figura da est. XXI, companheira do touro de Pedralva, cuja representação intencional é para mim um tanto duvidosa, não se podendo affirmar se o cinzelador que deu o modelo para a fundição quiz figurar um javali, um hyppopotamo, ou a sua própria imagem.

Observando-se attentamente a configuração da cabeça, das orelhas, dos olhos, da tromba descommunalmente larga, da cauda simplesmente assignalada, da linha dorsal mui arqueada, da enorme grossura das pernas sem signal de articulações, e das patas rematadas em saliente e espesso calcaneo, não parece que tantas desconformidades se juntassem ao mesmo tempo com o fim de se representar um javali.
Parece-me approximar-se um tanto menos impropriamente do hyppopotamo, comquanto não se possa dizer que fôra isso mesmo que o artista havia pretendido figurar, porque nenhum dos dois viventes ficou sendo reconhecivel; e comtudo o auctor julgou ter tão perfeitamente conseguido o seu desenho, que para melhor o dar a conhecer teve ainda a singular habilidade de lhe encravar dois mui salientes caninos de prata na enorme mandibula.
A arte de fundir o bronze é que estava muito atrazada; pois cada peça, toda crivada de bolhas de ar e de cavidades resultantes de substancias terrosas que correram com o minerio derretido, parece antes formada de escoriaes do que de bronze; o que, em vista de tal impureza, permitte presumir que o mister da fundição estava ainda pouco experimentado.
No museu de Evora ha um javali de bronze cujos delineamentos já são regidos pelo sentimento artistico do modelador; mas não se sabe onde e como foi achado; não parece, porém, que ultrapassasse as raias do dominio romano, e se assim é, aqui temos, pela comparação, mais um argumento em abono da maior antiguidade dos exemplares de Pedralva, os quaes, com as devidas reservas, incluo n’uma das phases da idade do bronze, tendo em vista o primor artistico que assignalou os ultimos tempos d’essa idade.
Mas que representação tinha o boi e o javali? Não seriam symbolos de um culto supersticioso?
N’este caso, teria de considerar os dois monstruosos animalejos do Monte da Pedralva como idolos de uma seita religiosa; mas D. Antonio Delgado considera o javali e o touro como emblemas de duas raças, que vieram povoar a peninsula, porque seguiu á risca o preceito de considerar desertos todos os territorios do mundo emquanto a unidade asiatica não operou a sua universal diffusão! O javali ou cerdo era, em seu entender, o emblema dos celtas, que os gregos disseram ter sido os povoadores do Occidente.
Delgado quiz porém ir mais longe, dizendo que os taes celtas tinham abrangido os aborigens procedentes das mesmas raças que povoaram a Atlantida ou os valles do Mediterraneo anteriormente ao cataclismo que separou o Calpe e o Abyla, abrindo o estreito que uniu aquelle mar com o Atlantico; mas nem os gregos designaram a epocha em que os celtas vieram ocupar o Occidente, nem Delgado indicou aquella em que desappareceu a Atlantida e em que baqueou a ponte que ligava a Europa á Africa; e assim se tem sempre trazido illudidos os espiritos, affirmando varios auctores o que não podiam de modo algum comprovar, confundindo celtas com phenicios e symbologias relativamente recentes com factos geologicos que nunca chegaram a perceber; pois não se póde entender com que apropriado fundamento o javali e o boi, dois mammiferos da fauna terciaria da Europa, ficassem symbolisando umas migrações asiaticas, que por emquanto apenas se sabe terem chegado aos dominios da imaginação que as inventou e propagou com tal expansibilidade, que a propria Atlantida de Platão não lhes pôde escapar.
Não são as iconographias numismaticas dos tempos historicos que podem esclarecer o significado dos idolos que tiveram culto supersticioso nas idades paleoethnologicas.
Por exemplo, a vacca, diz o sr. Bouillet, era adorada no Egypto sob o nome de Isis e hoje mesmo tem culto particular entre os indios, porque estes povos pensam que no corpo d’esses animaes passa a residir a alma dos bons, e por isso a vacca logra plena liberdade em meio d’aquelles descendentes dos civilizadores do mundo e a immunidade protectora da vida, porque seria grande crime matar uma vacca, o paraizo das almas dos índios!
Não trato aqui cultos peninsulares senão muito incidentemente. Os especialistas que desenvolvam este vasto assumpto. Entretanto, deve-se entender que ao touro compete na peninsula uma iconographia especial, que os romanos parece terem achado; pois elle é representado nas moedas dos indigenas e nas romanas, em monumentos dos proprios deuses, como se observa n’um d’aquelles pertencentes ao grupo do Endovélico ou Endovólico, ultimamente descobertos pelo sr. Leite de Vasconcellos, e porventura em edificios publicos, a que pertenciam as duas toscas cabeças de pedra que em Beja foram achadas e mettidas na face externa da parede de uma igreja, que pega com a rua do Touro.
Se no corpo do javali tambem entrava alguma essencia sublime, não o sei dizer. O que julgo dever entender é que a vida do javali e do boi não estava absolutamente protegida por um qualquer culto religioso, por isso que são numerosos os ossos que d’esses e de outros mammiferos tenho encontrado em depositos prehistoricos e historicos de varias idades, como significando que o principal preceito que elles inspiravam, consistia em se lhes aproveitar a carne e abandonar os ossos. . . D’este modo, sendo assim considerada a utilidade d’esses animaes, é possível que os seus vultos em bronze não symbolisem idolos de adoração, mas simplesmente memoraveis emblemas da mais apreciavel alimentação dos povos.
Muito podéra eu aqui compilar ácêrca do que se tem escripto, relativamente ao javali e ao boi; mas deixo esta especial erudição a quem tenha mais tempo disponivel para poder dar a este assumpto maior amplitude.
Com a indispensavel reserva dou ao Monte da Pedralva as honras de estação (?) da idade do bronze.»


Estatueta votiva de javali em bronze e presas de prata
Ex-voto em bronze e prata, representativo de um provável animal sacrificado aos deuses da região do Promontorium Sacrum
Tem aspecto compacto, superfície irregular, embora apresenta alguns aspectos destacados como a coluna dorsal saliente; cresce em altura de trás para a frente, a cauda é muito curta, possui grandes cascos, os olhos são assinalados pelas pálpebras em relevo e as narinas são dois orifícios redondos bem visíveis, do focinho saem duas presas em prata.
Idade do Ferro - séc. II-I a.C.
Altura 8 cm
Largura 4 cm
Comprimento 12 cm
N.º de Inventário 17925

Estatueta votiva de touro em bronze
Ex-voto em bronze, representativo de um provável animal sacrificado aos deuses da região do Promontorium Sacrum
Tem aspecto compacto, superfície irregular, pescoço grosseiro, pernas volumosas e bastante distantes, com cauda pendente e afastada do corpo, focinho afilado, chifres pequenos, olhos e narinas quase imperceptíveis. 
Idade do Ferro - séc. II-I a.C.
Altura 7 cm
Largura 4 cm
Comprimento 12 cm
N.º de Inventário 17924

Esboços de uma História, segundo a visão criativa de
Vítor Fragoso
(um talentoso Artista local)

O Navio Perdido de Sagres na National Geographic

Com uma bolsa da National Geographic Society / Waitt Grant, uma equipa internacional procura uma embarcação naufragada na enseada da Baleeira, no Algarve...