Feliz quem tem uma PEDRA em SAGRES

Palavras-chave | Keywords

"Boca do Rio" "Ermida da Guadalupe" "Farol de São Vicente" "Fauna e Flora" "Fortaleza de Sagres" "Gentes & Paisagens" "Gentes de Vila do Bispo" "Geologia e Paleontologia" "História do Mês" "Martinhal" "Menires de Vila do Bispo" "Paisagens de Vila do Bispo" "Tales from the Past" "Vale de Boi" 3D Abrigo Antiguidade Clássica Apicultura ArqueoAstronomia Arqueologia Experimental Arqueologia Industrial Arqueologia Pública Arqueologia Subaquática Arquitectura arte Arte Rupestre Artefactos Baleeira Barão de São Miguel Base de Dados Bibliografia biodiversidade Budens Burgau Calcolítico Carta Arqueológica de Vila do Bispo Cartografia Cetárias Cista CIVB-Centro de Interpretação de Vila do Bispo Complexo industrial Concheiro Conservação e Restauro Descobrimentos Divulgação Educação Patrimonial EPAC Escolas & Paisagens de Vila do Bispo Espeleo-Arqueologia Estacio da Veiga Estela-menir Etnografia Exposição Figueira Filme Forte Fotografia Geographia Grutas Homem de Neandertal Idade Contemporânea Idade do Bronze Idade do Ferro Idade Média Idade Moderna Iluminados Passeios Nocturnos Ingrina Islâmico Landscape marisqueio Medieval-Cristão Megalitismo menires Mesolítico Mirense mitos & lendas Moçarabe Moinhos Museologia Navegação Necrópole Neo-Calcolítico Neolítico Neolítico Antigo NIA-VB Paleolítico Património Edificado Património natural Património partilhado Pedralva Pesca Povoado Pré-história Proto-história Raposeira Recinto Megalítico/Cromeleque Referências RMA Romano Roteiro Sagrado Sagres Salema Santos Rocha São Vicente Seascape Toponímia Vila do Bispo Villa Romana
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Iluminado Passeio Noturno V

Entre o Natal e o Fim de Ano, mais um iluminado passeio pela noite megalítica de Vila do Bispo, entre os menires da Pedra Escorregadia, do Monte dos Amantes e do Cerro do Camacho...

O Sacrum Promontorium: uma paisagem partilhada, entre árabes, moçarabes e cristãos

Numa extrema paisagem sagrada, onde dois mares e o céu se fundem sob um intemporal altar de rocha, dois negros corvos iluminam um remoto caminho peregrino, para uma ermida perdida no fim-da-terra. 
Nos campos, indiferentes ao passar da História, teimosas gentes, de mãos curtidas, mas de credo solto, insistem em cultuar terras agrestes. Sobre elas, ergue-se uma vigilante torre de at-tali'a, tendo 'de atalaia' um monge-guerreiro sufi.
No horizonte norte, de passagem, sem portagem, aproxima-se uma cruzada pelo resgate de um mártir, a caminho de São Vicente e da Capital construção de um símbolo fundacional...


... mais uma ilustração de Vítor Fragoso
& texto de Ricardo Soares

O 'Machado Mirense' em Vila do Bispo

O Machado Mirense é uma das peças mais características, e também mais enigmáticas, da Pré-História Portuguesa. 
Possui uma distribuição geográfica circunscrita, já que se encontra exclusivamente no litoral, entre as embocaduras dos rios Sado e Guadiana, tendo sido identificado, pela primeira vez, junto ao rio Mira – e daí a sua designação epónima. 
Pensou-se, outrora, que poderia datar do Paleolítico. Que seria uma peça para usar na mão, tal como o biface. Por isso se chama “empunhadura” ao seu “cabo” e “cabeça” à sua parte activa – gume(s). Mas sabemos hoje que data de épocas mais recentes, podendo enquadrar-se desde o Mesolítico até à Idade do Bronze, realidade tardia documentada no sítio do Catalão, em Vila do Bispo [1]Neste contexto, tratar-se-ia de uma ferramenta encabada, para usar em actividades agrícolas ou de marisqueiro, por exemplo, quer na escavação de solos lamacentos, quer na recolha de bivalves. 
A longa diacronia da sua utilização, a sua expedita produção, a diversidade das aplicações a que se destinava (um verdadeiro ‘canivete suíço’), a disponibilidade da matéria-prima de base (o grauvaque) e o necessário (re)lascamento para avivar gumes exaustos, explica a expressiva quantidade da sua ocorrência e das respectivas lasca.
Em boa verdade, até à data, foi a região de Vila do Bispo que registou as maiores concentrações de artefactos de tipo "Mirenses", designadamente machados , numa exponencial discrepância que justificaria, justamente, renomeá-los de "vila-bispenses”. 
A sua frequência observa-se um pouco por todo o território de Vila do Bispo, com focos de maior concentração, por exemplo, em áreas como o Monte dos Amantes.
De resto, este tipo de machados multifuncionais, fabricados por talhe e bojardagem da pedra, antepassados (e contemporâneos!) do machado de pedra polida, encontram-se em quase todas as culturas dos alvores do Neolítico da bacia do Mediterrâneo e do resto do Mundo. Em Marrocos, em sítios arqueológicas do Neolítico, são conhecidas peças muito idênticas ao machado mirense, por vezes às centenas e até aos milhares, sendo aí ligadas ao trabalho da terra e à extracção de recursos como o sal!



[1] CORREIA, Jorge Estevão (2007) – O Sítio do Catalão e o Barlavento Algarvio na Transição do Calcolítico para a Idade do Bronze. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve. Faro.



ZBYSZEWSKI, G.; VEIGA FERREIRA, O. da; LEITÃO, M. e NORTH, C. T. (1972) – Contribuição para o conhecimento das Indústrias Mirenses de Vila Nova de Milfontes. In O Arqueólogo Português, Vol. VI, pp. 103-118.


CARDOSO, João Luís; GOMES, Mário Varela (1997) – Caracterização do Machado Mirense. Os Materiais de Monte dos Amantes (Vila do Bispo, Algarve). Setúbal Arqueológica, Vols. 11-12. Setúbal, pp. 121-146.


Alguns exemplares recentemente recolhidos à superfície nas 
paisagens arqueológicas de Vila do Bispo:


Fotografia de Ricardo Soares


Artefactos Neolíticos em Vila do Bispo


Sebastião Philipes Estácio da Veiga, no volume II das suas Antiguidades Monumentaes do Algarve - Tempos Prehistoricos, enumera uma série de referências a achados isolados integráveis no "neolithico" de Vila do Bispo, designando-os como "instrumentos neolithicos". 
Seguem-se as suas referências:

Instrumentos neolithicos isolados (Vol. II p. 311-314)

Villa do Bispo (Vol. II p. 311)

«Machado de diorite, totalmente desengrossado pelo attrito até o córte, em que ha estragos provenientes do trabalho. Tem de comprimento 0m,140, de largura 0m,058, e de espessura 0m,033. Foi ha muitos annos achado em excavação feita n’uma rua da villa e por mim comprado em 1878 a um trabalhador alli mesmo residente. Vae figurado na estampa II sob o n.º 1.
Com o antecedente machado deixei depositado no museu um ellipsoide de diorite (?), formado por dois segmentos de esfera unidos pelos bordos, deixando aresta saliente. No maior diametro mede 0m,050, no menor 0m,046 e na espessura 0m,034. É um lustroso calhau, que parece ter já sido util, servindo de polidor. Era companheiro do machado que fica descripto, e por isso, encostado a um fiador tão idoneo, parece poder ser considerado como instrumento que teve algum prestimo na ultima idade da pedra.»

Sellanitos / Rapozeira (Vol. II p. 311)

«Machado de secção transversal elliptica, totalmente desengrossado, com o córte em arcatura, assaz obliterado. Foi achado com pedaços de louça prehistorica em terra lavrada, deixando presumir que tenha pertencido a um monumento destruido. Mede 0m,090 de comprimento, 0m,046 de largura e 0m,027 de espessura. Comprei-o no proprio logar. É figurado na estampa II sob o n.º 4.»

Catalão / Sagres (Vol. II p. 311-312)

«Machado de schisto com desengrossamento geral, e alguns estragos, tanto no córte como na extremidade inferior. Mede 0m,097 de comprimento 0m,046 de largura e 0m,025 de espessura. Comprei-o no proprio sitio do Catalão, onde me informaram de terem apparecido outros muitos. Está depositado no museu, e vae figurado na estampa II com o n.º 2.»

Cabo de São Vicente / Sagres (Vol. II p. 312)

«Pequeno machado, de configuração similhante á do antecedente, com o córte abatido. Tem de comprimento 0m,090, de largura 0m,045 e de espessura 0m,029. Comprei-o a um camponez, que me afiançou tel-o achado na fenda de uma grande rocha, já perto do mar, onde ha muitos penedos de enorme grandeza, accrescentando que outras muitas pedras de raio se têem por alli achado. Está depositado no museu e é figurado na estampa II com o n.º 3.
Este machado fez-me lembrar os cumulos de tres a quatro pedras, que Estrabão refere ter havido no Cabo de S. Vicente, e que o barão de Bonstteten entende terem sido antigos dolmens construidos n’aquella extremidade da terra. É mui provavel haver pertencido a algum monumento actualmente destruido, ou talvez já precipitado no mar; pois que mui visivelmente toda aquella ponta de terra, continuamente batida pelas aguas do oceano, tem soffrido mui sensiveis deslocamentos. Se os monumentos, a que se refere Estrabão, estavam mui propinquos ao mar, não foi outra, a meu ver, a causa do seu desapparecimento.»

Budens (Vol. II p. 312-313)

«A aldeia de Budens está situada entre o extincto rio de Almádena e a ribeira da Zorreta. Todo esse tracto de terra fertil, comprehendido entre duas correntes de agua, foi utilizado por todas as nacionalidades prehistoricas e historicas que no Algarve ficaram caracterisadas. Houve alli notabilissimos centros de população. Só o riquissimo terreno de Budens, para ser explorado, como convinha, não exigiria menos de seis a oito mezes de trabalho activo com quarenta operarios effectivos. Por um lado a agricultura tem destruido os monumentos prehistoricos, a que chamam sepulturas antigas, internamente revestidas de grandes penedos, e por outro lado o oceano tem ido conquistando n’estes ultimos quinze seculos uma enorme zona de terreno.
Veja-se a descripção que Silva Lopes dá das opulentas ruinas de Budens na Chorographia do Algarve e veja-se na pasta encadernada das plantas e desenhos dos meus descobrimentos, existentes no museu archeologico do Algarve, a planta das ruinas que puz á vista junto á Bôca do Rio, onde ainda achei inteiros e sem a minima falha alguns preciosos pavimentos de mosaico de tão primoroso lavor, como os mais perfeitos de quantos puz á vista nas celebres ruinas de Ossonoba quando descobri a verdadeira séde e deixei patente uma parte importante d’aquella tão nomeada cidade de origem preromana.
O pouco tempo de que podia dispôr, sendo-me quasi inteiramente absorvido nas explorações tão reclamadas pelas nobilissimas ruinas da grande povoação da Bôca do Rio, não chegou para comprehender o descobrimento das estações prehistoricas já sobremaneira apparentemente desfiguradas; o que ainda assim não me impediria o seu reconhecimento, querendo guiar-me por uns caracteristicos de que já tinha tomado nota, a partir do Serro das Alfarrobeiras, ao sul, no rumo de noroeste, sobre o flanco direito do rio de Almádena, e ainda sobre a margem opposta, onde tantos vestigios neolithicos guarnecem o antigo leito d’esse rio, hoje transformado em vistosos arrozaes; pois para se pôr por obra uma exploração sufficientemente desenvolvida desde a ponta do Cabo de S. Vicente até á bahia de Lagos, seria mister o triplo do tempo em que fui obrigado a fazer o incompleto reconhecimento geral das antiguidades de toda esta provincia.
Para deixar representada a aldeia de Budens nos tempos prehistoricos, figuro sob o n.º 1 na estampa III uma enxó de schisto amphibolico, de forma achatada, formando angulos rectos em quatro arestas e o córte pela convergencia de duas facetas desiguais. Mede 0m,083 de comprimento, 0m,044 de largura e 0m,018 de espessura. Comprei-a na propria aldeia de Budens, onde foi achada. Está depositada no museu.»

Areias / Budens (Vol. II p. 313)

«Na mesma estampa III com o n.º 2 represento um pequeno machado de rocha quartzosa mui perfeito, que juntamente com outro tinha sido achado no sitio das Areias, perto da aldeia de Budens, em propriedade do sr. Joaquim Leal, por quem me foram offerecidos. Tem o córte produzido pelo desengrossamento de duas faceias convergentes. Mede 0m,073 de comprimento, 0m,040 de largura e 0m,025 de espessura. Está depositado no museu.»

Sellão Frio / Budens (Vol. II p. 314)

«N’este sitio e distante uma legua da igreja de Budens têem sido achados alguns machados de pedra em propriedade de Bernardino Baptista, residente na proxima freguesia da Luz. Foi este lavrador que me offereceu o de diorite negra, que figuro na estampa III sob o n.º 4. Tem o gume formado por desengrossamento decrescente, e com uma falha proveniente do trabalho. Mede 0m,127 de comprimento, 0m,050 de largura e 0m,040 de espessura. Está depositado no museu.»

Curraes / Budens (Vol. II p. 314)

«Fica este sitio uns 400 metros a nordeste de Barão de S. Miguel. Varios homens do campo affirmam ser frequente o apparecimento de machados de pedra n’aquelles terrenos e que algumas pessoas os guardam com a idéa de livrarem a sua casa da quéda de raios. Alli comprei a um camponez o perfeito machado com o gume muito arqueado e produzido por duas largas facetas, que figuro na estampa III com o n.º 3. Tem 0m,088 de comprimento, 0m,051 e 0m,031 de espessura. Tenho-o depositado no museu.»

VEIGA, E. da (1887) – Antiguidades Monumentaes do Algarve - Tempos Prehistoricosvol. II. Lisboa: Imprensa Nacional, pp. 311-314.




Recentes prospecções no Concelho de Vila do Bispo têm resultado na identificação de mais alguns artefactos (neo)líticos, alguns dos quais produzidos pela técnica da 'pedra polida', designadamente instrumentos como machados, enxós, dormentes e moventes de mós manuais, percutores, bigornas, entre outros:

Até já Vilson!

O Centro de Interpretação de Vila do Bispo 
agradece a dedicada colaboração de 
Vilson Valentim Palma ao longo deste último ano... 
até breve!


Escola Básica N.º 1 de Sagres visita o Centro de Interpretação de Vila do Bispo

Uma turma de crianças do 1.º Ciclo da Escola Básica N.º 1 de Sagres, acompanhadas pela Professora Ana Duarte, visitaram o Centro de Interpretação de Vila do Bispo.
A manhã do dia 04 de Dezembro foi assim preenchida com o seguinte programa: 




Fotografia de Ricardo Soares & Artur de Jesus