No passado domingo, dia 3 de abril, a Liga para a Proteção da
Natureza (LPN) promoveu mais
uma sessão pública relativa ao projeto LIFE Charcos -
Conservação de Charcos Temporários na Costa Sudoeste de Portugal. A
sessão decorreu no Centro de Interpretação de Vila do Bispo e em dois charcos
temporários alvo de monitorização no âmbito do referido projeto: Vale de Gato
de Cima (Vila do Bispo) e Vale Santo (Sagres).
Claro que o nosso Triops vicentinus foi mais uma vez o grande protagonista e
alvo principal das atenções. De recordar que esta espécie é endémica dos
charcos temporários do Concelho de Vila do Bispo, ou seja, no Mundo inteiro
apenas existe neste extremo sudoeste do Continente Europeu!
Estes organismos são conhecidos como
fósseis vivos porque existem há mais de 200 milhões de anos - do tempo dos
dinossauros! São crustáceos de água doce temporária e são designados por
“camarões-girinos”. O seu ciclo de vida é pautado pela sazonalidade do charco
onde vivem e os seus “ovos” resistem na fase seca para eclodirem com as primeiras
chuvas do ano seguinte.
O género Triops é assim denominado
pelo facto de possuir 3 olhos (2 olhos compostos e 1 naupliano). Estes animais
possuem também entre 35 a 71 pares de apêndices designados de toracópodes.
Estes toracópodes, característica dos Branquiopodes, têm várias funções, ou
seja, alguns servem para a respiração (brânquias nos pés), outros ajudam o
animal a mover-se e outros ainda ajudam-no a alimentar-se.
Os Triops vivem no fundo dos
charcos temporários, junto dos sedimentos, mas podem ser encontrados a nadar em
toda a coluna de água.
Estes animais possuem os sexos
separados mas os machos e as fêmeas são muito parecidos. Uma das principais
diferenças é que nas fêmeas o décimo-primeiro toracópode é ligeiramente
modificado para poder albergar os cistos. Outra diferença é que a carapaça dos
machos é ligeiramente mais redonda do que a das fêmeas mas a carapaça das
fêmeas é maior do que a carapaça dos machos.
O comprimento máximo da carapaça, sem
contar com os cercópodes (cauda) pode chegar até aos 7cm.
Na sua primeira fase de vida estes
fantásticos animais são filtradores, terminando como predadores carnívoros.
A preservação dos charcos temporários
torna-se assim essencial para a sobrevivência desta singular espécie, bem como
de outras, animais e vegetais. Trata-se de uma missão relativamente fácil, por
via da informação e sensibilização, e perfeitamente compatível com atividades
económicas ditas ‘tradicionais’. Por vezes a agricultura e a pastorícia
partilham as mesmas áreas dos charcos temporários. A ação não massificada do
pastoreio pode inclusive contribuir para a sustentabilidade e disseminação
destes crustáceos. Pelo facto de resistirem aos ácidos gástricos dos
herbívoros, os Triops podem ser transportados nas fezes do gado povoando
assim outras zonas alagadiças.
Já na próxima 6.ª feira, dia 8 de abril, marcamos novamente
encontro, às 19h15 no Centro de Interpretação de Vila do Bispo, para uma nova
visita aos charcos temporários do Concelho, desta feita noturna!
Até às 23h00
vamos “caçar” morcegos, anfíbios e outros animais com os especialistas Tiago Marques
(Universidade de Évora) e Edgar Gomes (LPN).