1.ª Fase | Abril-Dezembro de 2014
Promotor | Câmara Municipal de Vila do Bispo
Arqueólogo Responsável | Ricardo Soares (CMVB)
Apresentação, objectivos & metodologia
O projecto que aqui se apresenta,
denominado de “Carta Arqueológica do Concelho de Vila do Bispo”, encontra-se
dividido em 4 fases, correspondentes aos anos previstos para a sua
concretização e de acordo com os meios humanos disponíveis.
Para o efeito, o arqueólogo da Câmara
Municipal de Vila do Bispo, Ricardo
Soares, submeteu à respectiva autoridade tutelar (Direção Regional de
Cultura do Algarve) um Pedido de
Autorização de Trabalhos Arqueológicos (PATA), deferido em ofício datado de
02 de Maio de 2014 (Processo n.º DR/2014/08-15/16/PATA/2964 - C.S:121711),
relativo à 1.ª Fase do projecto, a executar
entre Abril e Dezembro de 2014.
Em Janeiro de 2015 encontra-se
prevista a continuidade do projecto, na sua 2.ª Fase (Janeiro-Dezembro de
2015), período durante o qual será entregue, à Direção Geral do Património Cultural, o requerimento de renovação
do PATA e o Relatório relativo aos
trabalhos de 2014, em conformidade com o prazo estipulado no Artigo 7.º n.º 1,
do Decreto-Lei n.º 270/99 de 15 de Julho.
Para além dos avanços científicos, fundamentais para o
conhecimento e valorização do património cultural do Concelho de Vila do Bispo
(arqueológico, histórico e etnográfico), também se intenta, com este projecto, ampliar
a base de dados relativa ao património arqueológico concelhio, de forma a disponibilizar
um instrumento essencial para uma boa gestão do território, cuja eficácia
depende, necessariamente, da localização precisa dos vestígios, da
identificação, caracterização e valorização de sítios arqueológicos com maior
potencial turístico-cultural, e da consolidação de informação básica, sobre a
qual se podem e devem alicerçar discursos de âmbito informativo e pedagógico,
dirigidos, nomeadamente, à população escolar do Concelho e a todos os
interessados na sua história regional.
Concluído o projecto, a
publicação dos seu resultados encontra-se prevista sobre a forma de Carta Arqueológica, com edição da
própria autarquia, segundo um modelo de inédita leitura integrada de todos os
dados ao momento coligidos, propondo-se à comunidade científica e, muito
particularmente, à comunidade loco-regional, uma completa e sequencial
narrativa sobre a ocupação humana deste território ao longo de todos os tempos,
de forma transversal e acessível aos diversos públicos. Até lá, de modo
parcelar e sem prejuízo da publicação final, é nossa intenção partilhar
informação relevante em apresentações públicas, locais e regionais, congressos nacionais
e internacionais, artigos em revistas científicas e no sítio online criado para o efeito – Vila do Bispo Arqueológica.
Ao momento, já se encontra desenvolvida uma base de dados em software FileMaker, na qual foram incorporados todos os dados arqueológicos
entretanto coligidos e relativos ao Concelho de Vila do Bispo, designadamente
disponíveis na Base de Dados da DGPC (Endovélico),
em bibliografia de âmbito regional, em relatórios de trabalhos arqueológicos
realizados no Concelho e, sobretudo, em levantamentos arqueológicos
precedentes: Antiguidades Monumentaes do
Algarve (Estacio da Veiga, 1886; 1887; 1889; 1891; 1910); Levantamento Arqueológico do Algarve -
Concelho de Vila do Bispo (Mário Varela Gomes e Carlos Tavares da Silva,
1987); Menires de Vila do Bispo -
Inventário/Cartografia (João Velhinho, Associação de Defesa do Património
Histórico e Arqueológico de Vila do Bispo, 2005); Levantamento Patrimonial de Vila do Bispo (ERA-Arqueologia, 2009).
A criação de
uma base de dados de raiz tem permitido detectar imprecisões ou duplicações de
informação, possibilitando buscas rápidas e leituras fáceis – uma ferramenta
fundamental para uma melhor compreensão da sequência e ritmos de ocupação neste
território, munindo o arqueólogo de diversos conhecimentos de base para os
trabalhos de campo.
A par destas
fontes fundamentais, também tem sido dada privilegiada atenção ao registo de
imprescindíveis testemunhos orais de uma população com potencial informativo
sobre o território: pastores, agricultores, caçadores, pescadores,
marisqueiros, guardas da natureza e antigos guarda-rios, enfim... gentes da
terra.
O projecto aqui apresentado
poderá diferenciar-se dos já referidos, e de forma inédita, por se tratar de
uma investigação produzida no seio da própria autarquia, visando um retorno
social e uma aplicação prática dos resultados, ultrapassando a lógica de
pontuais empreitadas, desprovidas de uma merecida continuidade.
Além do conhecimento produzido e
da sua instrumentalização, enquanto potencial ferramenta municipal, o projecto
ambiciona desenvolver dinâmicas de envolvimento, estimulo e alcance
sócio-cultural, com possível impacto na economia loco-regional.
Posto isto, a par da continuidade
da extensa tarefa de preenchimento da referida base de dados, e reunidas as
ferramentas necessárias, torna-se impreterível a aventura no terreno.
Nesse sentido, e nesta 1.ª Fase,
compreendida entre Abril e Dezembro do presente ano, tem sido dada prioridade à
relocalização, reavaliação, delimitação,
registo e descrição de sítios e monumentos em vias de classificação,
designadamente os conjuntos meníricos de Milrei
e do Padrão (Raposeira, Vila do
Bispo), com prospecções sistemáticas
nas suas áreas envolventes, que, pelo facto de constituírem realidades
contíguas, de difícil individualização, podem ser tratadas como uma unidade
geográfica, extensível até às zonas costeiras, a sul, alcançando-se,
assim, outras áreas de reconhecido potencial arqueológico.
Esta estratégia acaba por
circunscrever uma área de actuação
prioritária no território da Freguesia da Raposeira, recentemente integrada
na União de Freguesias da Vila do
Bispo-Raposeira, ainda que, tendo em conta a globalidade do projecto, se
assume uma total liberdade de actuação
em toda a área do Concelho de Vila do Bispo.
O projecto conta, à partida,
apenas com o arqueólogo titular. Porém, os trabalhos de campo e de laboratório
poderão receber outros contributos, designadamente de equipas de alunos de
arqueologia da Universidade do Algarve, ao abrigo de protocolos de cooperação;
de alunos de escolas loco-regionais, numa perspectiva de educação patrimonial;
de equipas do Centro de Investigação Arqueológica de Vila do Bispo, projecto
paralelo que pretende desenvolver iniciativas de integração da comunidade
loco-regional, numa perspectiva de sensibilização cultural e patrimonial e de
arqueologia pública/social; de equipas de espeleólogos do Projecto ProPEA (Projeto
Património Espeleológico do Algarve) e do CEAE-LPN (Centro de Estudos e
Actividades Especiais da Liga para a Protecção da Natureza), organismo
integrado pelo próprio signatário do projecto e com larga experiência em acções
de prospecção espeleo-arqueológica.
Metodologicamente e no que se refere aos materiais identificados, estes são objecto de registo fotográfico, in loco, e de georeferenciação com GPS, sendo recolhidos determinados exemplares, segundo pré-definidos critérios de integridade, conservação e potencial informativo e expositivo.
Metodologicamente e no que se refere aos materiais identificados, estes são objecto de registo fotográfico, in loco, e de georeferenciação com GPS, sendo recolhidos determinados exemplares, segundo pré-definidos critérios de integridade, conservação e potencial informativo e expositivo.
Os sítios e monumentos, além de
uma sistemática georeferenciação e do convencional registo fotográfico, são
alvo de fotografias de enquadramento paisagístico e, nos casos em que se
verifiquem indícios de aspectos decorativos (frequentes nos menires regionais),
também merecem “visitas” nocturnas para uma melhor observação e registo
fotográfico com técnicas dirigidas de iluminação rasante.
Os materiais recolhidos, depois
de inventariados e integrados na base de dados, são tratados, marcados, descritos
e pertinentemente documentados em registo fotográfico de estúdio e/ou
desenhados.
A georeferenciação de realidades arqueológicas, históricas e
etnográficas, é obtida com recurso a um aparelho GPS Garmin Dakota20,
programado no Datum ED50 (European Datum 1950), exportado segundo
um sistema de coordenadas UTM. As coordenadas registadas são descarregadas e
organizadas no software Garmin BaseCamp
e no Google Earth, enquanto
ferramentas básicas de leitura dos dados e de planificação dos trabalhos de
campo. A base de dados cartográfica e os necessários layouts cartográficos serão produzidos em colaboração com o Departamento de Informação Geográfica
(SIG) da Autarquia de Vila do Bispo, permitindo uma futura integração no PDM do
Concelho.
Ainda no que respeita ao registo fotográfico, realiza-se com uma
câmara Nikon D90, com uma lente
versátil (18-105mm f/3.5-5.6G ED VR), para os registos de campo, e com uma
lente macro (55mm f/2.8), para o registo de materiais em estúdio.
A metodologia de prospecção traçada para a 1.ª Fase do projecto,
tendo em conta os objectivos prioritários já enunciados, as limitações de tempo
e o facto de os trabalhos contarem, à partida, apenas com um técnico
responsável, que acumula outras funções no âmbito da arqueologia municipal, tem
sido de início muito selectiva e consequente das acções de relocalização de
realidades arqueológicas já conhecidas, pelo que as áreas alvo a prospectar são
tendencialmente planificadas “passo a passo”, em percursos abrangentes entre os
arqueossítios pré-seleccionados.
Claro que, nesta abordagem, além
da relocalização, confirmação, reavaliação, delimitação e melhor compreensão de
realidades arqueológicas conhecidas, também se procura, inevitavelmente, identificar
expectáveis sítios inéditos – e as descobertas têm sido profícuas!
Atendendo às suas especificidades
geomorfológicas, as áreas litorais, sobretudo da costa sul do Concelho, serão
alvo de prospecções com atenção
espeleológica, pontualmente realizadas com o apoio de equipas especializadas.
Existem algumas cavidades cársicas identificadas no Concelho que ainda não foram
objecto da devida atenção de uma investigação dirigida e que, muito
naturalmente, tendo em conta os contextos culturais envolventes, se revestem de
grande potencial arqueológico.
Toda a experiência adquirida pelo
signatário nas referidas cartas arqueológicas da Arrábida, sobretudo na área da
plataforma de abrasão do Cabo Espichel, revelam-se agora de grande utilidade no
território de Sagres/São Vicente, por se tratarem de paisagens muito
semelhantes nas suas características ambientais, geológicas e, de certa forma,
arqueológicas.
Todavia, por
muito que se pense conhecer um determinado território, o seu verdadeiro
entendimento provém de uma experiência cumulativa, de um permanente dialogo
entre o arqueólogo e a sua área de estudo, por exemplo: as condições de
visibilidade dos solos alternam sazonalmente ao longo do ano e variam indeterminadamente
ao longo dos anos; os terrenos lavrados, além de limpos de vegetação, são
revolvidos, expondo eventuais vestígios arqueológicos, enquanto, depois de
semeados, tornam-se “proibidos”; as áreas afectadas por incêndios, depois de
“lavadas” pelas chuvas, também facilitam a actuação do prospector; os terrenos
perturbados pela acção dos javalis são fossados, ao ponto de permitirem uma
excepcional progressão na vegetação densa e a prospectabilidade em novas
clareiras; os sítios arqueológicos em zonas costeiras, como será o caso
paradigmático da estação romana da Boca do Rio (Budens, Vila do Bispo), são
dramaticamente afectados pelo avanço das marés e pela erosão marinha, para não
falar dos recorrentes atentados causados pela ilegal actividade de
detectoristas de metais!
Todas estas
condicionantes ou oportunidades, naturais ou antrópicas, sobretudo agrícolas e
sazonais, obrigam o arqueólogo a estudar as dinâmicas e ritmos dos terrenos, exigindo
pelo menos de 1 ano para serem minimamente registadas e entendidas. Estas
dinâmicas vão, inevitavelmente, determinar as estratégias de prospecção pois, independentemente das áreas pré-determinadas numa
ordem de prioridades, há que aproveitar as oportunidades de janelas de
visibilidade no terreno, sobretudo em terrenos lavrados, ou aguardar por
possibilidades de transitabilidade, respeitando os terrenos cultivados.
A região de
Vila do Bispo era conhecida, até muito recentemente, como o “celeiro do
Algarve”. Hoje, ainda que tendo perdido essa importância económica, as marcas
são evidentes no impacto sobre sítios arqueológicos.
No caso dos
menires, esse impacto é bastante evidente, sobretudo nos monólitos de menor
dimensão. Encontram-se frequentemente fracturados e deslocados dos seus
contextos de implantação original, em linhas de delimitação de propriedades ou
em marouços, juntamente com outras pedras.
Em suma, a
1.ª Fase do projecto aqui apresentado, ainda que preliminar, será fundamental
para, conforme expectável, se gerar uma dinâmica de investigação arqueológica
que não se esgotará com a publicação dos resultados, dentro de 4/5 anos. O seu
alcance poderá superar-se num irreversível projecto de continuidade, de
relevante importância para um Concelho de grande riqueza, no que ao património
arqueológico diz respeito, e que tem actualmente no turismo a sua principal
actividade sócio-económica.
Como referido, a Base de Dados Endovélico, acessível no Portal do Arqueólogo da Direção-Geral do Património Cultural, constitui uma ferramenta indispensável à actividade arqueológica. Trata-se de uma base de dados de informação arqueológica, em parte disponível a qualquer interessado, com áreas de acesso reservado a profissionais. A sua utilização é facilitada por via de um motor de busca organizado segundo os seguintes itens:
A pesquisa por sítios arqueológicos inclui as informações sobre todos os vestígios de património arqueológico, resultantes de trabalhos de prevenção, salvaguarda, investigação e valorização patrimonial, desenvolvidos em Portugal Continental. A informação provém dos dados obtidos nos processos do arquivo histórico da arqueologia portuguesa e dos trabalhos de relocalização e identificação de novos sítios, realizados pelos serviços do estado. Encontram-se igualmente disponíveis, ainda que não de forma sistemática, as referências sobre vestígios arqueológicos em meio aquático, que consistem em achados na costa portuguesa, referências nacionais em águas internacionais e estrangeiras e referências tanto nacionais como internacionais em águas de países lusófonos. Os dados reflectem o estado actual dos conhecimentos e resultam da informação que é remetida diariamente ao Instituto, pelo que se encontra em permanente actualização. Os utilizadores registados têm acesso à localização geográfica dos vestígios arqueológicos disponibilizada em coordenadas geográficas no sistema WGS84 (World Geodetic System de 1984), usado mundialmente em cartografia e geodésica, nomeadamente nos aparelhos de GPS e na interface GoogleEarth do próprio portal.
O Concelho de Vila do Bispo conta ao momento (Outubro de 2014) com 248 sítios arqueológicos inventariados na Base de Dados Endovélico, correspondentes a todas as épocas, desde o Paleolítico até "ontem", e a diversas realidades, assinaladas tanto em ambiente terrestre, como em meio marinho.