Carbónico marinho da Zona Sul Portuguesa
Neste pequeno promontório da costa atlântica,
situado cerca de 6 km a NO de Sagres, observam-se os afloramentos mais
meridionais dos turbiditos do Grupo do Flysch do Baixo Alentejo, assim como dos
Grés de Silves. As características geológicas mais marcantes deste magnífico
afloramento, verdadeiro geomonumento da Cadeia Varisca Europeia, são as
seguintes:
1. Existência de uma superfície
aplanada, no topo da arriba, onde se encontram preservadas cascalheiras
correspondentes a uma praia levantada do Quaternário (nível dos 30 m).
2. A Formação do Grés de Silves,
do Triássico (250 a 205 Ma), datada por uma associação fossilífera pobre, com
ossos de peixes estegocéfalos, bivalves (euesterídeos) e pólenes. A unidade é
constituída por bancadas de arenitos e siltitos avermelhados, por vezes com
intercalações pouco espessas de conglomerados As bancadas areníticas apresentam-se
maciças ou com estratificação cruzada de larga escala e os siltitos podem
apresentar laminação cruzada associada a riples de corrente. As bancadas
expostas na falésia correspondem à parte inferior da unidade e têm espessura
total da ordem dos 8 m. A tonalidade avermelhada dos sedimentos (indicando a
presença de óxidos de ferro) e as estruturas sedimentares sugerem deposição na
parte intermédia de leques aluviais desenvolvidos em região continental com
clima árido.
3. Discordância angular dos Grés
de Silves sobre os turbiditos da Formação da Brejeira, a unidade mais recente
do Grupo do Flysch do Baixo Alentejo. Esta discordância abarca o período de
tempo correspondente a 55 Ma, durante o qual se deu a elevação e erosão de
parte significativa da Cadeia Orogénica Varisca, originada durante o Carbónico
Superior, admitindo-se terem sido arrasados entre 3 a 5 km da crosta
continental.
4. Formação da Brejeira, com
idade compreendida entre o Baskiriano Médio (320 Ma) e o Moscoviano Superior
(305 Ma), idade esta estabelecida com base em associações fossilíferas de
amonóides e miosporos. É constituída por espessa (> 1000m) sequência
turbidítica formada por alternâncias de xistos e grauvaques. As bancadas de
grauvaques têm espessuras de ordem centimétrica a decimétrica e aparecem em
relevo devido à sua maior resistência à erosão. Observação cuidada destas
bancadas mostra que no seu interior apresentam granoseleção, laminação paralela
e cruzada (ritmos de Bouma), na base figuras de carga, de arraste e
turbilhonares (flutes), e no topo marcas de corrente. A unida apresenta-se
afectada pela Orogenia Varisca, caracterizada principalmente por dobras
subverticais com clivagem xistenta associada, bem visíveis ao longo da falésia.
São ainda visíveis pequenas falhas inversas, com topo (aparente) para Norte,
afectando as bancadas turbidíticas. Estas falhas desaparecem na discordância
angular.
5. No local está ainda bem
exposta atual da plataforma de abrasão marinha, predominantemente rochosa
devido à forte ação erosiva do mar.
Triásico Superior do SW
Ibérico
Discordância entre rochas paleozóicas metamorfizadas e deformadas e arenitos
triásicos. Esta discordância angular materializa milhões de anos de processos
geodinâmicos internos (afundamento, metamorfismo e dobramento, seguidos de
gradual soerguimento) e externos (denudação e erosão dos relevos soerguidos). Trata-se
do melhor local, em Portugal, para observação desta discordância com elevado
valor científico e didático. Relevância internacional. Excelente visibilidade e
facilidade de acesso a pé!