Feliz quem tem uma PEDRA em SAGRES

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A estação do Neolítico Antigo da Cabranosa | Sagres


Na área de Sagres, no sítio da Cabranosa, os Serviços Geológicos identificaram, em 1970, um povoado precisamente representativo dos primeiros momentos do período Neolítico, datado por Carbono14 de há 6.500 anos (Cardoso e Carvalho, 2003). Desde cedo, os trabalhos ali realizados consagraram bibliograficamente a Cabranosa como um sítio-chave para o entendimento do processo de neolitização do território actualmente português (Ferreira, 1970; Guilaine e Ferreira, 1970; Zbyszewski et al., 1981), sendo consensualmente definido como um acampamento-base, excepcionalmente representativo do Neolítico Antigo regional (Cardoso et al., 2001; Carvalho e Cardoso, 2003; Soares, 1997; Soares e Silva, 2003, 2004).
A investigação arqueológica neste povoado permitiu recuperar algumas conchas e um búzio (púrpura), perfurados para adorno, e um conjunto de artefactos líticos (em sílex, quartzo, quartzito, cristal de rocha e grauvaque) e de grandes recipientes cerâmicos (cerca de 17), de assinalável beleza formal e decorativa, alguns dos quais incrivelmente bem preservados e que indiciam ter servido, não para cozinhar alimentos, mas para a sua recolha.
Interessante o facto de algumas das pastas cerâmicas utilizadas nestas peças apresentarem elementos minerais constituintes provenientes da Serra de Monchique, o que pressupõe um território de exploração bastante alargado para os grupos neolíticos da Cabranosa. Estes excepcionais artefactos cerâmicos fazem hoje parte da colecção do Museu Nacional de Arqueologia, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, tendo sido apresentados ao público pela 1.ª vez, entre Abril e Maio de 2011, na exposição Neolítico Antigo em Portugal.
De salientar, mais uma vez, o registo directo de fauna marisqueira (mexilhão, lapa e búzios), mas também indirecto, na decoração “cardial” patente em alguns dos recipientes cerâmicos identificados. Associada a uma corrente de expansão cultural neolítica, de primeiros contactos, difundida por via marítima ao longo da costa mediterrânea, a partir do Próximo Oriente, a cerâmica de tipo “cardial” distingue-se por gramáticas decorativas obtidas pela impressão de conchas de berbigão (Cardium edule - cardial - em forma de coração).
Uma das características das primeiras cerâmicas, produzidas a partir do Neolítico, quando comparadas com as de épocas posteriores, será a sua variedade formal e riqueza decorativa, aspectos que deverão associar-se à novidade tecnológica, à sua emergente importância e ao valor simbólico de que se revestiam. Com o tempo, sente-se a tendência para a perda de expressão simbólica na cerâmica doméstica, em favor de uma simplicidade utilitária, tornando-se as decorações mais funcionais (pegas, asas, perfurações de suspensão, superfícies aderentes), havendo uma transferência e continuidade figurativa na cerâmica votiva de âmbito funerário.