A investigação arqueológica neste povoado permitiu
recuperar algumas conchas e um búzio (púrpura), perfurados para adorno, e um
conjunto de artefactos líticos (em sílex, quartzo, quartzito, cristal de rocha
e grauvaque) e de grandes recipientes cerâmicos (cerca de 17), de assinalável beleza
formal e decorativa, alguns dos quais incrivelmente bem preservados e que
indiciam ter servido, não para cozinhar alimentos, mas para a sua recolha.
Interessante o facto de algumas das pastas
cerâmicas utilizadas nestas peças apresentarem elementos minerais constituintes
provenientes da Serra de Monchique, o que pressupõe um território de exploração
bastante alargado para os grupos neolíticos da Cabranosa. Estes excepcionais
artefactos cerâmicos fazem hoje parte da colecção do Museu Nacional de
Arqueologia, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, tendo sido apresentados ao público pela 1.ª vez, entre Abril e Maio de 2011, na exposição Neolítico Antigo em Portugal.
De salientar, mais uma vez, o registo
directo de fauna marisqueira (mexilhão, lapa e búzios), mas também indirecto,
na decoração “cardial” patente em alguns dos recipientes cerâmicos identificados.
Associada a uma corrente de expansão cultural neolítica, de primeiros
contactos, difundida por via marítima ao longo da costa mediterrânea, a partir
do Próximo Oriente, a cerâmica de tipo “cardial” distingue-se por gramáticas
decorativas obtidas pela impressão de conchas de berbigão (Cardium edule - cardial - em forma de coração).
Uma das características das primeiras
cerâmicas, produzidas a partir do Neolítico, quando comparadas com as de épocas
posteriores, será a sua variedade formal e riqueza decorativa, aspectos que
deverão associar-se à novidade tecnológica, à sua emergente importância e ao valor
simbólico de que se revestiam. Com o tempo, sente-se a tendência para a perda
de expressão simbólica na cerâmica doméstica, em favor de uma simplicidade
utilitária, tornando-se as decorações mais funcionais (pegas, asas, perfurações de
suspensão, superfícies aderentes), havendo uma transferência e continuidade
figurativa na cerâmica votiva de âmbito funerário.