No concelho de Vila do Bispo, o mês de Agosto de 2014 foi em boa parte dedicado à Arqueologia.
Uma equipa de arqueólogos liderados pelo Professor Nuno Bicho, da Universidade do Algarve, dedicaram este mês de Verão a mais uma campanha de escavações na jazida arqueológica de Vale de Boi, na freguesia de Budens.
A par dos trabalhos no terreno, Agosto arrancou com a exposição 'No fim do mundo há 30 Mil Anos atrás: Os Caçadores-Recolectores Pré-Históricos de Vale de Boi', inaugurada no Centro de Interpretação de Vila do Bispo, no dia 8. Esta mostra, patente até ao dia 30 de Setembro, apresenta uma retrospectiva dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos até ao momento, mostrando uma panorâmica dos 15 anos da história dos trabalhos na jazida de Vale de Boi, debruçando-se, particularmente, sobre os dados relativos à economia, sociedade e tecnologia dos mais antigos caçadores-recolectores da nossa espécie, conhecidos em todo o sul peninsular.
Entretanto, na encosta do abrigo paleolítico de Vale de Boi, os trabalhos foram decorrendo a bom ritmo, reunindo mais alguns preciosos fragmentos de uma longínqua história, os ténues ecos da vida quotidiana destes nossos remotos antepassados.
Este importante sítio arqueológico foi descoberto em 1998, na sequência de trabalhos de prospecção nos vales fluviais da Costa Vicentina. Situada a leste da Ribeira de Vale de Boi, sobranceira e dominante sobre a actual localidade com o mesmo nome, a jazida localiza-se a cerca de 2 km da actual linha de costa. Os vestígios arqueológicos apresentam uma dispersão superior a 10 000 m2, ocupando a vertente esquerda do vale, sendo limitada a este por um afloramento calcário com 10 m de altura e a oeste pelo aluvião da ribeira.
Os trabalhos de escavação tiveram início no ano de 2000, pautando-se pela intervenção em três áreas distintas da jazida, revelando, desde então, uma longa sequência cronológica, iniciada há cerca de 33 mil anos.
Para além de inúmeros artefactos relacionáveis com a caça (nomeadamente pontas de seta) e com outras actividades quotidianas, foram também exumados milhares de ossos de animais caçados, designadamente de veado, de auroque (boi gigante entretanto extinto), de cavalo, de javali e de coelho, que terão servido para a alimentação destes caçadores-recoletores; bem como de leão, de lobo, de raposa e de lince, provavelmente caçados devido às suas peles. O marisqueio também fazia parte da alimentação destas primeiras comunidades humanas do Algarve. Ainda de realçar a descoberta de elementos de arte móvel, característica do período paleolítico na Península Ibérica, designadamente uma interessante peça de xisto, gravada com a ilustração esquemática de 3 presumíveis auroques, e que pode ser observada na já referida exposição.