Feliz quem tem uma PEDRA em SAGRES

Palavras-chave | Keywords

"Boca do Rio" "Ermida da Guadalupe" "Farol de São Vicente" "Fauna e Flora" "Fortaleza de Sagres" "Gentes & Paisagens" "Gentes de Vila do Bispo" "Geologia e Paleontologia" "História do Mês" "Martinhal" "Menires de Vila do Bispo" "Paisagens de Vila do Bispo" "Tales from the Past" "Vale de Boi" 3D Abrigo Antiguidade Clássica Apicultura ArqueoAstronomia Arqueologia Experimental Arqueologia Industrial Arqueologia Pública Arqueologia Subaquática Arquitectura arte Arte Rupestre Artefactos Baleeira Barão de São Miguel Base de Dados Bibliografia biodiversidade Budens Burgau Calcolítico Carta Arqueológica de Vila do Bispo Cartografia Cetárias Cista CIVB-Centro de Interpretação de Vila do Bispo Complexo industrial Concheiro Conservação e Restauro Descobrimentos Divulgação Educação Patrimonial EPAC Escolas & Paisagens de Vila do Bispo Espeleo-Arqueologia Estacio da Veiga Estela-menir Etnografia Exposição Figueira Filme Forte Fotografia Geographia Grutas Homem de Neandertal Idade Contemporânea Idade do Bronze Idade do Ferro Idade Média Idade Moderna Iluminados Passeios Nocturnos Ingrina Islâmico Landscape marisqueio Medieval-Cristão Megalitismo menires Mesolítico Mirense mitos & lendas Moçarabe Moinhos Museologia Navegação Necrópole Neo-Calcolítico Neolítico Neolítico Antigo NIA-VB Paleolítico Património Edificado Património natural Património partilhado Pedralva Pesca Povoado Pré-história Proto-história Raposeira Recinto Megalítico/Cromeleque Referências RMA Romano Roteiro Sagrado Sagres Salema Santos Rocha São Vicente Seascape Toponímia Vila do Bispo Villa Romana
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

História do Mês de Outubro | Campeões dos céus de outono - os Grifos chegaram a Sagres!

A ‘História do Mês’ consiste numa iniciativa expositiva do Centro de Interpretação de Vila do Bispo iniciada em janeiro de 2015 onde, mensalmente, se apresenta um objeto e um associado discurso informativo. Além da divulgação, valorização e partilha de determinados apontamentos e curiosidades da memória coletiva do território, pretende-se, com esta iniciativa, provocar hábitos de visita ao nosso equipamento cultural.

Quem ainda não se deparou com um céu escurecido por largas centenas de grandes aves planadoras, que, calmamente e desenhando círculos, se elevam a grandes alturas?
Quem ainda não se deteve, por alguns minutos, para contemplar este incrível espetáculo proporcionado pela Natureza, oferecido por estas grandes aves de certa forma bizarras?
Na ‘História do Mês’ de outubro de 2017 fique a conhecer um pouco melhor o Grifo, também conhecido por “abutre-fouveiro” (Gyps fulvus), a maior e mais emblemática ave que, durante algumas semanas de outono, domina de forma incrível os céus do concelho de Vila do Bispo.

Venha conhecer esta História, passe pelo Centro de Interpretação de Vila do Bispo e aproveite a oportunidade para visitar a exposiçãopatente até ao final do ano, intitulada "Era uma Vez em Vila do Bispo... uma viagem desde a Pré-história ao Mundo Romano".











































































Campeões dos céus de outono 
os Grifos (Gyps fulvus) chegaram a Sagres!

Sagres, o extremo sudoeste do continente europeu, constitui um dos mais importantes pontos de passagem nas rotas migratórias de várias espécies de aves que anualmente, no final do verão, abandonam a Europa a caminho das terras quentes de África. Estas aves, sobretudo juvenis e menos experientes, seguem a orientação natural da costa atlântica da Península, até ao Cabo de São Vicente, em Sagres, local onde se reúnem por algumas semanas e de onde prosseguem até à região de Gibraltar, o ponto mais próximo de África e mais propício para a grande travessia do Estreito.
Durante este período, conhecido como a grande migração outonal, a região de Sagres reúne uma incontável quantidade e variedade de espécies de aves, provenientes de distintos habitats, propiciando um incrível fenómeno, único em Portugal. Esta rara concentração de aves permite a fácil observação de diversas rapinas e planadoras de grande porte, que exuberantemente se destacam nos céus, nomeadamente Cegonhas-pretas, Britangos (Abutres-do-Egito) e imensos bandos de Grifos; e outras, mais pequenas e discretas, denominadas de passeriformes, igualmente com elevado interesse e beleza. Também em áreas estuarinas, como os pauis da Boca do Rio e do Martinhal, nas arribas e no mar, são observáveis bastantes espécies de aves pelágicas, ou seja, marinhas.
Em 2010, consciente desta realidade, a Câmara Municipal de Vila do Bispo convida a SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves) e a Almargem (Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve) para, conjuntamente, colaborarem no sentido da criação de condições de acolhimento aos observadores desta grande migração outonal, por via da organização de um evento pioneiro no nosso país, ainda hoje único a nível nacional, tanto no seu perfil, como no tema explorado.
Desde então, ano após ano, este evento tem vindo a consolidar-se como um diferenciado ‘cartão-de-visita’ do território concelhio de Vila do Bispo. Passados 8 anos desde a 1.ª edição deste projeto, a península de Sagres encontra-se plenamente referenciada como spot de interesse internacional nos roteiros de observação de aves. Hoje designado por Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza, assume-se como um evento que vai muito além do tema “aves”, apresentando o território vilabispense como um todo, nos seus diversificados e diferenciadores aspectos, quer de ordem natural, quer de âmbito cultural.
Quanto às “aves”, além de mote para a reunião, têm cumprido o competente papel de autênticos anfitriões para quem visita Sagres nos primeiros dias de outono.
Na perspetiva local, para os habitantes do Concelho de Vila do Bispo, o Grifo é a espécie mais emblemática que domina os nossos céus durante algumas semanas da estação outonal. Quem ainda não se deparou com um céu escurecido por largas centenas de grandes aves planadoras, que, calmamente e desenhando círculos, se elevam a grandes alturas? Quem ainda não se deteve, por alguns minutos, para contemplar este incrível espetáculo proporcionado pela Natureza, oferecido por estas grandes aves de certa forma bizarras?
O Grifo, também conhecido por “abutre-fouveiro” e tendo por nome científico Gyps fulvus (Linnaeus 1758), é um abutre que ocorre nas escarpas de montanhas do sul da Europa, do Sudoeste Asiático e de África. É normalmente gregário e estabelece colónias que podem reunir 200 casais. Em Portugal nidificam algumas centenas de casais de grifos, sendo a sua distribuição bastante assimétrica. Ocupando sobretudo as zonas interiores e fronteiriças, as principais colónias situam-se no nordeste transmontano, que alberga mais de metade da população portuguesa, mas também nas áreas protegidas do Parque Natural do Douro Internacional, do Parque Natural do Tejo Internacional, nas Portas de Ródão, surgindo ainda alguns grupos mais a sul, na Serra de São Mamede.
Durante a grande migração outonal e conforme as condições climáticas e o prolongamento do bom tempo estival, alguns membros destas colónias do sul da Europa, sobretudo os juvenis, rumam até Sagres como se de uma peregrina viagem iniciática se tratasse. Atualmente, entre meados de outubro e meados de novembro, reservam cerca de duas semanas para visitar este nosso grande Cabo Sagrado, aproveitando as correntes térmicas ascendentes para se elevar nos céus e, com a força do vento norte, planarem até à costa norte de África, voando grandes distâncias quase sem bater as suas enormes asas.
Muito grande, maior que as maiores águias, os Grifos chegam a medir até 1 metro de comprimento e 2,7 metros de envergadura de asas, pesando de 6 a 12 kg. Enquanto necrófagos, alimenta-se quase exclusivamente de carniça, passando longos períodos do seu dia-a-dia a pairar no céu, em círculos, à procura de cadáveres. Porém, cada vez mais têm sido registados episódios de ataques de grifos a presas vivas, especialmente animais jovens, debilitados ou doentes, designadamente rebanhos de ovelhas.
Em voo tem uma silhueta típica, com enormes asas, muito maiores que o corpo e com extremidades dedilhadas (rémiges), cauda curta e arredondada, completamente aberta. A parte superior e inferior do corpo apresenta uma cor castanha clara, com as pontas das asas e a cauda pretas. O pescoço, bastante característico, é angulosamente encolhido, apresentando um colar espesso de penas claras na base, sendo depois coberto de pequenas penas brancas até à cabeça, com um aspecto lanoso. Tem patas cinzentas bastante débeis, pois não as usa para agarrar as presas como as águias. Sendo um accipitrídeo, o bico apresenta uma curvatura típica das rapinas, sendo extremamente forte e preparado para a tarefa de descarnar e de explorar as entranhas de carcaças de animais de qualquer porte.
Nidifica em saliências ou fendas de elevadas escarpas rochosas, construindo um ninho de gravetos e ervas. Com uma postura anual, entre janeiro e junho, põe um só ovo, branco, que eclode ao fim de 48 a 54 dias. A cria demora entre 110 a 115 dias até reunir condições para o primeiro voo. Os dois progenitores revezam-se na incubação do ovo e, depois, na alimentação da sua cria única. Ao contrário de outras aves, esta, se não receber a quantidade de alimento necessária, é incapaz de atrasar o seu crescimento, morrendo de inanição.
Na Península Ibérica o número de grifos tem vindo a crescer desde 1980, anos em que se contavam apenas cerca de 1000 exemplares. No entanto, desde que as normas da União Europeia proibiram o abandono de gado morto nos campos, sobretudo a partir da crise das “vacas loucas”, o alimento para estes animais diminuiu drasticamente, facto que tem vindo a contribuir para a diminuição da sua população no resto da Europa.

Bibliografia de referencia:
Plano Sectorial da Rede Natura 2000. “Fauna, aves, Gyps fulvus, Grifo”. Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade.

texto e fotografia de Ricardo Soares (arqueólogo, CMVB)